sexta-feira, 14 de março de 2008

Assim!

Escondi-me na noite, silêncio escuro.

Sozinha por sorte, sinto o ar puro.

Deixo-me envolver, neste lugar seguro.

Esqueço, não minto, com o frio já não sinto.

Lembranças tardias, em pedras tão frias.

Lugar só meu.

Acolho nas asas o suspiro que é teu.

Dor de uma ferida que sempre doeu.

Transporto-as comigo, agarradas a mim,

sem risco, sem perigo,

porque a minha noite é assim.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Vazia

Injectem-me amor no sangue,
façam-me bater o coração,
nada mais aqui habita,
nem uma simples emoção,
nem por ilusão,
não sinto,nada, tudo, isto ou aquilo,
deixei somente de senti-lo.
Em parte viva,
vazia por inteiro,
em parte existo,
perdi o meu próprio cheiro.
Ainda assim não desisto,
Não sei quanto tempo mais aguento,
ser apenas um corpo em desalento,
não pertencer a quem sente,
não ter um espaço no tempo.
Intervalo interminável,
que me torna cada vez menos visível,
estou a ficar transparente,
sem um único sentimento afável,
meigo, carinhoso, completo,
tornei-me num corpo descoberto,

aberto à dor,
a dor de não sentir,
a dor de não ter nada por dentro,
a dor de estar congelada,
num infinito sofrimento.
Tenho os olhos negros,
levaram-lhes a cor,
esgotados, cansados
mas ainda me pertencem,
nunca me foram roubados.
Vejo-me a preto e branco,
na espera do dia que voltarei a ter cor,
em que sentirei por encanto,
a felicidade ao meu lado,
um sorriso na minha vida,
triste como estou,
mas hei-de deixar de o ser.
Aprenderei a viver,
a amar sem querer,
até mesmo quando quiser,
tê-lo-ei sem saber,
tornar-se-á inconsciente.
Hoje carente,amanha radiante,
porque eu posso estar a morrer por dentro,
mas a esperança, antiga amiga,
incorpora-me a crença,
para que nunca desista,
mas que não insista,
impondo a sua presença,
o sentir vem por si só,
acredito nela, para que vença.
Um dia a apatia pertencerá ao passado,
rir-me-ei dela, como algo fracassado.
Um dia este eu desaparecerá,
serei então a minha pura essência,
não por mera coincidência,
mas por lutar, por acreditar,
que todos podemos ser felizes,
que o sol brilha para o mundo,
que no fundo,
é construído por todos nós,
onde nunca estamos sós,
porém é um mundo atroz,
mas que um dia sentirá o calor,
do que é viver um único amor.

Parecenças

Parecenças distintas, somos singulares.
Dizes sem que sintas, que não fomos feitos aos pares,
para te livrares, do que achas similar,
pois eu digo-te que somos diferentes,
mas que te tento completar.
todo o mundo tem a ver contigo,
menos eu, que te aceito e não te sigo.
Está diante dos teus olhos,
basta abri-los e vês-me à tua frente,
mas não te sinto, tu não me sentes,
não te vejo, nem que tente,
não é presente, não é de hoje,
quando descobriste o mundo,
partiste e nada te trouxe.
Não me sintas, acolhe a tua liberdade,
esquece-me se for preciso,
se para ti isso for a verdade.
Imaginas pessoas iguais a ti,
dizem-te o que é certo ou errado,
acreditas mais que em mim,
acreditas mais que em ti,
porque te sentes bem nesse lado.
O lado de não ser único,
o lado do lado clonado.
Preferes não te render à essência do teu pensamento,
de não agir como pensas,
rejeitas dos impulsos aos sentimentos,
só porque os que hoje te são chegados,
levam-te os sonhos aos deles amarrados.
Tudo à tua volta é diferente,
não se resumo ao que te entende,
porque nem toda gente respeita,
uma mente que por si é feita.
Sem palpites de outros mortais,
fazem de palavras repetições irreais,
fazem de ti actos imorais, vitais,
ao sentir de todos e não ao ser como cada qual,
simplesmente ninguém é igual.
Posso não dizer o que gostas de ouvir,
posso não agir, como gostas de ver,
posso não te largar, porque te quero sentir.
Serei então a eterna espera,
dirte-ei até não poder,
que é aqui que vou morrer,
que te oiço sem falares,
que vejo no teu rosto tudo o que estás a pensar,
que serei sempre um porto de abrigo seguro,
onde te podes esconder,
onde podes parar, chorar, falar,
sem eu nunca te negar.
Embora pertença a mim própria,
fui feita para os outros,
escrevi em mim mil e uma histórias,
mas com tão poucas vitórias,
porque me faltavam as pessoas.
Quero apenas que acredites,
que tudo o que digo é sentido,
não são somente palavras ditas sem vontade,
é o meu coração em tom de verdade.
Quero que sejas feliz,
mesmo que eu não pertença à tua felicidade.
Quero que façam por ti o que eu fiz,
quero que te ofereçam sinceridade.
Não sorrisos baratos,
nem palavras sem saudade,
não inúteis abraços, acolhidos em braços de falsidade.
Quero para ti o melhor,
uma vida linda e jamais vista,
quero que sigas sem rancor,
quero que este peito resista,
por mais forte que seja a dor,
porque o mundo perderá a cor,
sem ti ao meu redor!